Há mais de 45 anos, a cidade de Marechal Deodoro foi o local de fundação, transição e desativação de um dos projetos esportivos mais importantes do esporte amador em Alagoas.
A vida de uma reportagem especial está em uma história que se estabelece na história de vida de pessoas diferenciadas e incomparáveis. Toda história tem personagens bons e ruins, mas o protagonista é um só. Aquele que marca o início, embeleza o meio e determina o fim. No caso desse material jornalístico é a figura de um homem que, infelizmente, não está mais entre nós. Mas, que sem dúvidas temos de escrever e que sem a devida atribuição de suas ações, que deveriam ficar de legado, esse material estaria sem sentido.
A referência se trata de um ser humano que foi destemido, que fez durante muito tempo, pelo menos enquanto esteve a frente de seu projeto, a engrenagem do ambiente esportivo de Marechal Deodoro girar e que, acima de tudo, colocou na cabeça de vários garotos o sonho de ser um jogador de futebol. Inesquecível, famoso e memorável,"Zé Pampão", que Deus o tenha, não respondia por outro nome.
Sumaúma do "Zé Pampão" era amor versus dinheiro
O Sumaúma surgiu na cabeça do "Zé Pampão" e foi passado diretamente para as chuteiras desbotadas, para as bolas remendadas e para os sonhos improváveis de crianças carentes de Marechal Deodoro. Sem passar pelo crivo dos papéis, das atas e dos estatutos, o jogo do time do "Zé Pampão" era exclusivamente feito de amor, que no contexto dessa reportagem especial é adversário do dinheiro.
Aos poucos, aquele homem solitário de fomentação, de apoio e de crença em seu trabalho, sempre sem lucro, conseguiu juntar os mais diversificados e melhores pequenos craques da bola da cidade de Marechal Deodoro. Sem dúvida, aqueles garotos que acompanhavam o "Zé Pampão" eram os melhores do município. Salvo algumas poucas exceções de cada geração, que em nome da inclusão social, presente em seu time, também faziam parte do elenco.
Em Marechal Deodoro, ele desenvolveu o futebol de base e foi através de seu projeto, que alguns garotos conseguiram vencer no esporte mais importante do mundo. Outros, só perderam, porque a vida nesse esporte traz caminhos difíceis de percorrer e muitas vezes com obstáculos insuperáveis pelo ser humano.
Injustiçados?
Um exemplo do que já aconteceu no futebol deodorense, foi o caso do Erisson Nascimento, mais conhecido como "Nego do Kia". No ano de 1996, ele e seus companheiros levaram o Sumaúma até a final do Campeonato Alagoano SESI, perdendo apenas na decisão para o Dalmo por 1 x 0, com gol marcado pelo Morais, ex-Vasco da Gama. O Nego do Kia conta que os treinos eram realizados no campo do Palmeirinha, localizado na Zona Rural de Marechal Deodoro, próximo a Usina do grupo Toledo. Os atletas iam de bicicleta aos treinos. Depois, esses mesmos treinos foram passados ao destruído campo do Ipiranga e ao antigo Eco Park. Encerrou dizendo que as lesões e sua timidez foram decisivas no seu não firmamento como profissional.
Outras duas promessas desse projeto, foram: Janílson Rafael, apelidado carinhosamente de "Rafinha", e José Nilton, o "Tinho Qualidade".
O primeiro era o dono da camisa 10 e da faixa e, com uma canhota poderosíssima, tinha a capacidade e a habilidade de deixar qualquer um na cara do gol. Inteligentíssimo dentro de campo, o meia-esquerda batia muito bem na bola. Realizava cobranças de falta mortíferas. Sempre foi o xodó do "Zé Pampão". Passou pelo Vitória da Bahia e Asa de Arapiraca.
O outro, foi o jogador mais completo que já vi jogar, capaz de atuar em diferentes posições e jogar exercendo várias funções, "Tinho" se destacava por sua versatilidade. Muito rápido e preciso em suas ações dentro de campo, ele era capaz de fazer papeis ofensivos e defensivos com a mesma facilidade.
O "Tinho" conta que devido a problemas financeiros atravessados pelo Sumaúma, o "Zé Pampão" fez uma espécie de parceria terceirizada do time com o Alfa do advogado Raimundo Palmeira, na qual o advogado chegava junto financeiramente em troca das atuações dos atletas do Sumaúma pelas cores do Alfa.
Nesse tempo, em 2004, o "Tinho Qualidade" foi considerado o melhor atacante do Alagoano Sub - 20. Chamou a atenção de diversos clubes, inclusive Internacional, Grêmio e Palmeiras, que tentaram sua contratação. Infelizmente, segundo o jogador, aconteceram coisas obscuras nas possíveis transações que impossibilitaram o ingresso de "Tinho" ao profissional.
Transformação Revolucionária em Clube Desportivo Real Deodorense
A mudança de Sumaúma para Real Deodorense ocorreu de forma bem significativa. O Sumaúma do "Zé Pampão" já estava acostumado a participar de competições amadoras, em Maceió, mas com muita dificuldade devido as questões financeiras. Faltava para aquele time, um investimento mais arrojado. Então, foi em 2007, que Euclides Mello incluiu ao projeto do "Zé Pampão", uma estrutura inimaginável para a cidade de Marechal Deodoro.
Com a inserção do capital euclidiano, os garotos que treinavam e jogavam no time de base pelo Real Deodorense, realizavam suas atividades com todos os requintes dos times de Maceió. Sem deixar a desejar em nada com relação ao CSA e o CRB, por exemplo.
Os treinos aconteciam no Estádio Euclides Mello, que nos dias atuais se tornou um condomínio, e em dias de jogos, todos usavam um ônibus. Euclides Mello conta que era uma honra muito grande gerir esse projeto voltado ao esporte em Marechal Deodoro. "É, claro, que toda transformação impressiona, mas o Real Deodorense dava certo porque era fruto de muito empenho e trabalho."
Junto aos investimentos estruturais de Euclides Mello, em 2012, o técnico João Neto e o preparador físico Rubens de Lima Rodrigues, que já faleceu, trabalharam ao lado do "Zé Pampão" durante apenas um ano no time. Em 2012, o Real Deodorense venceu o Corinthians-AL e em 2013, bateu o CRB pelo Campeonato Alagoano.
O time de Marechal Deodoro foi o primeiro Super Bi-Campeão da competição representando a cidade. Geração de Ouro do time que contou com Aurínverson "Tico-Tico" Araújo, Bruno Souto e Lucas Fernandes, como principais destaques.
Essa espécie de nova era do futebol de base em Marechal Deodoro parecia ser definitiva. Proporcionou ao esporte amador dois momentos incríveis. Primeiro, uma turnê para a Tunísia em 2011 e depois, a Copa São Paulo de Futebol Jr. de 2014.
Triste Fim
Mas, o destino do futebol de base em Marechal Deodoro iria ter um desfecho ruim. Com a morte do Zé Pampão, também se foi o desenvolvimento do futebol e rapidamente veio a desativação do Clube Desportivo Real Deodorense. É preciso que haja mais investimento no setor, pois foram inúmeros craques que já passaram e passarão pela cidade de Marechal Deodoro.
Sintam-se homenageados também: Galeguinho, Gilmar, Có, Iba, Ita, Misael, Edjeckson, Ninô, Hérico, Vitinho, Xié, Esso, Leonardo, entre outros craques que fizeram história na base deodorense.
Recomeço
O que falta para a cidade de Marechal Deodoro é alguém que tome a frente e desenvolva novamente o futebol de base. Tem muito garoto bom de bola em Marechal Deodoro. E sinceramente, não consigo entender como outros municípios conseguem ter times na primeira divisão do Campeonato Alagoano de Futebol e Marechal Deodoro não se estabelece nesse cenário.
Texto: Jornalista Fernando Antonio 1916 MTE - AL
Beijo, abraço, saúde, fique com Deus e até a próxima...
Turnê Tunísia
Copa São Paulo de Futebol Jr
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